sábado, 7 de novembro de 2020

Uma história contada por meu pai


 

Acho interessante quando, mesmo em meio a era da internet de alta velocidade, com todas as inovações por ela trazidas, pais ainda contam histórias a seus filhos, usando livros a cabeceira da cama ou em meio a um bate papo na sala de casa, numa reunião familiar, quando os filhos já são crescidos. Assim foi, que ouvi e concluí com muito orgulho, uma história vivida por meu pai, antes não sabida.


Há alguns anos, quando trabalhava como motorista profissional na cidade de Guarujá, conhecida como “a pérola do Atlântico”, conduzindo um ônibus de transporte coletivo, acidentalmente, após o desembarque de um passageiro com sua esposa, movimentou o ônibus para a partida, derrubando as sacolas de compras do casal. Muito agressivo, o homem vociferou muitos palavrões e investiu contra o ônibus com pancadas e ameaças, indo embora ainda esbravejando.


Meu pai me confessou ter ficado triste pelo episódio. No entanto, dia depois, dirigindo pela cidade, reconheceu o cidadão furioso daquele dia e então resolveu pedir licença ao passageiros para ir falar com o homem:

- “Olha, eu sou o motorista que derrubou sem querer as suas compras, o ônibus é grande e o senhor estava fora do meu campo de visão… quero pedir desculpas e dizer que não foi por mal… e pagar qualquer prejuízo que tenha tido”…


Ao que o homem respondeu:

- “Imagina, fiquei aborrecido de momento, mas o senhor não me deve nada”…


Meu pai conta que se despediram com um cumprimento pacífico e desejos mútuos de sucesso…


Meu pai sempre foi um homem maravilhoso, trabalhador e amoroso… No entanto, algumas vezes se deixava levar por um temperamento “pavio curto” que se mostrou evidente por várias vezes no decorrer de sua vida. Mas, ao viver a experiência de um novo caminho de fé, que o levou a uma autoexame de consciência, passou a cada vez menos, esboçar momentos de aborrecimento explícito.


Não… Ele não zerou essa questão em sua vida, vez ou outra se mostra chateado mas em muito menor proporção do que no passado. O que temos dele, é cotidianamente, um homem de fé, de valores e princípios e que demonstra amor aos que o cercam e que o amam também.


A história acima, contada por ele, tende a ser algo simples, porém de grande valor pois o caminho da superação do próprio ego e da oferta do perdão é algo de que o mundo precisa de forma urgente. Se assim fosse, viveríamos num mundo de paz e de amor constante.


Que bom, ter em meu pai, um exemplo de que o ser humano pode e deve ser cada vez melhor.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Onde você estava?


 

A cada ano, a pergunta se repete: Onde você estava em onze de setembro de dois mil e um? Ao chegarmos em dois mil e vinte, alguém com menos de dezenove anos de idade não terá o que responder mas alguém com quarenta anos mais ou menos, provavelmente se lembre.


Eu tinha vinte e um anos.


Naquele dia eu estava saindo do escritório da empresava em que eu trabalhava e ao chegar numa esquina próxima, onde havia uma árvore muito alta ouvi alguém dizer que um avião havia se chocado com um prédio em Nova York. É claro que me causou espanto, mas nada comparado a instantes depois ouvir que uma segunda aeronave havia colidido em um edifício vizinho e associado a esta segunda informação, ouvi pela primeira vez, ao ver os diversos aparelhos de TV repercutirem ao vivo, pela primeira vez a palavra ‘terrorismo’ sendo associada a esse evento.


Pouco depois, aquele dia se revelaria ainda mais aterrorizante nos plantões de notícias: outra aeronave se chocando no Pentágono, sede militar norte-americana e mais uma caindo na Pensilvânia.


Todos aqueles quatro voos tinham como destino a ensolarada Califórnia na costa oeste do país: Los Angeles e São Francisco eram as cidades a que chegariam os aviões, caso aqueles dezenove sequestradores não houvessem dizimado tanto a tripulação, passageiros, quanto os trabalhadores das duas torres do World Trade Center.


Com o passar do tempo e conforme as investigações iam avançando, informações chocantes vinham ao público: a luta dos passageiros do voo 93 da United para dominar os terroristas, as palavras de despedida dos passageiros por meio de seus telefones celulares enquanto as aeronaves rumavam para as torres gêmeas do WTC… Cada vida perdida em solo ou no ar, causava a reflexão: “E se fosse eu ali?”


Dezenove anos depois, ainda penso sobre isso…


A verdade é que como sempre na vida, achamos que o controle da vida está em nossas mãos… Nada é tão enganoso como pensar assim. Nenhuma daquelas pessoas fazia a menor ideia de que seus voos jamais aterrissariam, nada além de que estariam logo em breve chegando a costa oeste pra seguirem suas vidas, fazia parte de seus planos para aquela manhã.


Gosto de fazer reflexões que embora pareçam óbvias, desafiam nossa arrogância de gerência total sobre nossas vidas. Penso que nossa vida só não é melhor do que ela poderia ser porque costumamos procrastinar as mudanças que seriam vitais para uma vida mais produtiva, feliz e que fizesse diferença na vida daqueles que ficariam depois…


Aqueles terroristas destruíram a si próprios e também a milhares de pessoas. Há corpos que nunca foram encontrados, pois foram totalmente desintegrados; no entanto, muitos ali apesar de terem se transformado em cinzas, continuaram fazendo a diferença na vida de suas esposas, maridos, filhos, netos, irmãos, amigos, etc… Pois antes de embarcarem, haviam construído e edificado suas vidas em valores que não se desintegram pela violência mas se solidificam e eternizam pelo amor.


A cada vez que preciso de embarcar num voo eu lembro disso e fico feliz a toda vez que chego ao meu destino mas também penso no que ficará da minha vida para os outros, caso eu não chegue ao meu destino programado e claro isso se refere a todos os outros “voos” da minha vida. E quanto a você? Se seu “voo” for desviado da rota original, o que ficará de você?

sábado, 5 de setembro de 2020

Meus Brinquedos


 Você consegue lembrar dos seus brinquedos de infância? Tenho certeza de que, pelo menos, alguns deles foram mais marcantes e te fazem lembrar de uma época maravilhosa possivelmente. Enquanto descrevo a seguir alguns dos meus favoritos, talvez você faça o mesmo com as suas lembranças.


Talvez o primeiro do qual me lembre, é um telefone de corpo amarelo e base vermelha, que era muito bonito, tinha um discador funcional, um fio em formato espiral e era de um acrílico bem resistente ainda sim era bem leve. Tenho uma foto com ele de quando eu tinha uns 3 anos e minha irmã era ainda bebê. A partir de então, tive muitos brinquedos, como carrinhos que se moviam por fricção, tive uns dois “Trombada” que eram carrinhos famosos na época por simularem colisões os deformavam e que voltavam ao normal apenas fechando suas portas; lembro também de um avião que simulava decolagem e aterrissagem da extinta aérea norte-americana – PanAm; um ônibus eletrônico que era réplica dos que eram usados no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris; um lindíssimo Mercedes-Benz sedã em escala 1/24 e muitos mais.


Curiosamente nunca tive vídeo-game, por uma razão muito simples, meus pais acreditavam que não era o tipo de brinquedo que fosse boa influência, apesar de vez ou outra, terem me permitido jogar na casa de amigos, jogos de corrida ou de desafios, mas nunca de batalhas ou lutas. Depois de adulto, continuei a gostar do mesmo tipo de ‘game’ e nas raras vezes que uso um jogo no computador, os temas são: simulação de voo e corrida ou desafios como desvendar enigmas e ainda jogos de xadrez. Até hoje não suporto jogos de luta por exemplo. Não entendia, como colegas meus amavam gastar dinheiro em fliperamas, sendo tão viciados que davam socos na máquina, quando perdiam uma ‘luta’. Mesmo com grandes hardwares como Playstation e Xbox atualmente, não me animo com esses tipos de jogos.


O que me faz relembrar essa parte da minha infância hoje, é um tipo de paradoxo que não somente eu mas como qualquer criança que chega a idade adulta, vive.


Nossos brinquedos expressam a vontade de deixarmos logo de ser criança pra ser gente grande. ‘Dirigindo’ nossos carrinhos por estradinhas feitas na terra, ‘pilotando’ nossos aviõezinhos com propulsão manual ou ainda enchendo de água o tanque de casa pra ‘navegar’ com nossos inafundáveis barquinhos ou naviozinhos.


Quando crianças ignoramos as pressões da vida adulta que são o ‘outro lado da brincadeira’ e que somente são conhecidas quando ‘chegamos lá’. Somente então é que o paradoxo que citei aqui, começa a ‘dar as caras’. Olhamos para o passado e pensamos em quão bom seria que nossa única preocupação com o carro, fosse buscá-lo na caixa de brinquedos e não listarmos mentalmente o IPVA, DPVAT, Licenciamento Anual, revisão, manutenção, acidentes, insegurança… Ou ainda, que nossos filhos precisassem apenas de serem guardados naquela mesma caixa, com roupinhas que ‘sujam’ apenas na imaginação das mamães de bonecas com suas mamadeiras de 5 ou 10 ml de água e não precisassem de educação, vestimenta, alimentação, assistência médica e odontológica e a lista segue…


Claro que você entendeu que não estou dizendo, que filhos sejam dispensados desses cuidados. Minha argumentação tem a ver com o paradoxo e não com o amor que temos por nossa prole.


A verdade é que adultos não podem regressar para sua infância mas as crianças irão tornar-se adultas, portanto, pessoas grandes devem fazer tudo o que tiver ao seu alcance para que crianças vivam apenas a sua infância. Sim, com carinhos, bonecas, jogos mas longe da erotização ou vícios dos adultos que não tiveram, por qualquer razão, uma infância saudável.


Não estou afirmando também que a vida adulta seja somente de fardos, aliás, está muitas vezes em nossas mãos, buscar um pouco das nossas raízes em nossos primeiros anos; não poderemos mais entrar em um ‘Delorean’ e voltar para nossa caixa de brinquedos, mas algo daquela época ainda está em nós e sendo assim, podemos relembrar esses momentos e deles tirar alguns bons aprendizados e valores, seguindo então pela vida com mais leveza.

sábado, 29 de agosto de 2020

A carteira


 Perder é sempre ruim, seja uma perda grande ou pequena. Inversamente proporcional é a sensação de encontrar alguma coisa, podendo ser algo que se buscava intensamente ou aquilo que já se tinha dado como perdido. Há ainda aquelas situações nas quais encontramos coisas que não nos pertencem mas também não pertencem a mais ninguém e as somamos aos nossos ganhos ou quando possível a localização do(a) dono(a), podemos ter a satisfação de devolver aquele pertence.


Passamos a vida perdendo coisas e a perda de uma carteira é algo mais do que corriqueiro.


Lembro da vez em que perdi uma carteira quando eu voltava de um compromisso num sábado pela manhã. Na verdade só percebi a perda ao chegar em casa. Na hora aparece um sentimento ruim no meio do peito e em seguida a tensão do que aquela perda vai gerar – no meu caso, perdi algumas centenas de reais e ainda meus documentos como a habilitação para dirigir. Isso representava contas que não seriam pagas e horas perdidas para conseguir novos documentos.


Tentei ainda refazer o caminho no desejo de quem sabe, encontrar essa carteira num canto do caminho, torcendo para que uma pessoa mal intencionada não a encontrasse primeiro mas não tive sucesso.


No dia seguinte, uma viatura policial parou em frente a minha casa e dois agentes da polícia me chamaram pelo nome, o que me causou estranheza, mas ainda sim não associei essa visita inesperada com a perda da minha carteira, no entanto era justamente essa a razão pela qual eles estavam ali. A carteira foi encontrada a cerca de duzentos metros do caminho em que eu havia passado – nela estavam meus documentos mas o dinheiro foi todo roubado. “Gentilmente” eu suponho, deixaram os documentos jogados para que talvez eles chegassem até mim de volta, já que o mais “interessante” já estava ‘ganho’.


Inicialmente fiquei grato aos policiais que me trouxeram a carteira mas logo me preencheu a sensação de revolta ao pensar que o meu dinheiro ganho com trabalho honesto estava sendo desfrutado por uma pessoa oportunista e desonesta. Fui tentado também a supor uma possível desonestidade daqueles agentes, mas o correto é que o primeiro pensamento seja de confiar nos homens da lei.


E aqui reside a minha reflexão: pelo fato de sermos bombardeados por notícias de corrupção no ambiente público, em especial em instituições em que a justiça e a honestidade jamais deveriam ser objeto de questionamento, somos levados a ver com desconfiança muitos agentes públicos, reputando-os como potencialmente desonestos. Ao pensar assim cometemos também possíveis injustiças, pois culpar inocentes também é grave, mesmo que isso seja apenas feito num ambiente privado, pois pode tornar-se hábito para nós culpar quem não merece culpa e então podemos, sem o devido e correto senso crítico, injustiçar pessoas pelo caminho.


Só quando somos alvo de injustiças é que estamos gabaritados a entender quem é vítima delas. E pensar nisso me leva a lembrar aquela conhecida expressão popular: “Não queira para os outros, o que você não quer pra si”.

sábado, 22 de agosto de 2020

Mudar é preciso

Fernando Pessoa, o ilustre poeta português mas tão presente na cultura brasileira, imortalizou na literatura: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Ao dizer isso, Pessoa não desprezava o valor da vida, mas enfatizava que para navegar é necessário planejamento, cálculos, entre tantas outras coisas, porém, na vida nem sempre há precisão, sendo que muitas vezes ela é imprecisa, surpreendente, imprevisível…

Tomo a liberdade a partir daqui, de parafrasear o autor lusitano e digo que “mudar é preciso” não apenas no sentido da necessidade mas também no sentido da exatidão. A vida pressupõe movimento e este por sua vez demanda mudança, seja no tempo, no espaço ou em ambos.

De modo prático, não estar disposto a mudança leva a nossa vida a um ponto inercial e improdutivo. Agarrar-se ao que conhecemos, como que fugindo das mudanças que certamente trazem o desconhecido, um dia nos porá frente a situações nas quais não saberemos como agir.

Recentemente, após muitos anos, mudei de casa, indo morar a milhares de quilômetros em distância. A mudança não foi apenas da região em que morava, mas da vida que eu tinha. Foi uma mudança necessária e muito importante no meu crescimento pessoal e de minha família também. Hoje, eu encaro as mudanças da vida como inevitáveis e transformadoras, nem sempre elas são fáceis mas por serem factíveis na vida, demandam de cada um de nós uma decisão do que fazer quando estamos diante delas: ou nos adaptamos a elas e crescemos num contexto de “360 graus” ou esmorecemos e quedamos silentes, aterrorizados, confusos e talvez até depressivos.

É verdade que é mais fácil falar do que fazer, mas também é verdade que mudanças podem ser oportunidades maravilhosas de fazer a nossa vida tão plena como sequer poderíamos imaginar um dia. 

Dizem que toda viagem (aqui significando mudança) começa com um primeiro passo, e é verdade, mas eu entendo que uma viagem, seja ela de que tamanho for, começa um pouco antes: nasce dentro de nós, em nossa decisão.

domingo, 21 de junho de 2020

A Tartaruga Marinha


Foto: Pixabay

Andando pela areia da orla de Santos, que por sinal estava bem sossegada, vi a uns 30 metros, uma tartaruga marinha daquelas enormes que parecia estar saindo da água naquele momento… Enfiei a mão no bolso pra encontrar o smartphone rápido pra não perder a cena… Só pra me frustrar logo depois e perceber que o último bip que eu tinha ouvido não era sms e sim a bateria dando “adeus”…
Mesmo assim, me animei e corri para, pelo menos, admirar a beleza fantástica daquele animal… Talvez num raio de 100 metros não havia mais ninguém, assim fiquei a vontade pra me aproximar… Percebi que ela tava paradinha com a cabeça erguida e imponente como se estivesse olhando o mundo fora d’água com curiosidade… 
A água quebrava em seu casco continuamente… Só que algo me chamou a atenção… Havia um filete de sangue que saia da lateral da cabeça… Chocante olhar pra ela e perceber então que estava morta, parecia viva, majestosa, linda mas já não havia nada a fazer… Ainda fiquei olhando um tempo pra ela, compadecido da cena… “Que pena” – divagava eu nos meus pensamentos… Ainda triste comecei a me afastar, mas não olhei pra trás até tomar certa distância… Só então quando sua imagem era apenas um ponto distante naquela faixa de areia foi que vi, ávidos urubus começarem a despedaçá-la… Nem preciso dizer que uma bela tarde de descanso e contemplação aos pés do mar, acabou com meu dia… Esse caso parece com a vida que muitos de nós levamos, parecemos vivos, cabeça erguida, olhar altivo mas… Estamos “morrendo na praia”… 

O problema além disso, são os muitos abutres que nos cercam… Talvez em muito dependa de nós, sermos dilacerados ou não, mas vale lembrar que “aves carniceiras” NÃO se alimentam de seres “VIVOS”… Tenha uma vida muito feliz!!!





sábado, 13 de junho de 2020

Os meus sapatos e a política




Pensando cá com os meu botões a respeito da "bendita" política de nosso país (e em quem sempre argumenta que papo de política é assunto chato, engrossando a massa daqueles que tornam-se responsáveis por sua omissão, pela deterioração da nossa democracia), lembro das várias oportunidades em que conversei com autoridades nesse país...

Certa vez fui convidado a uma convenção política em um clube elitista e ao transitar pelos amplos salões do lugar, notava que a maioria dos filiados e políticos importantes, ostentavam-se como se estivessem em uma redoma, alheios a tudo o que acontecia lá fora e o assunto em nenhum momento era o que fazer pelas pessoas nesse país, mas sim o que articular para promover esse ou aquele nome do partido para que fossem eleitos no próximo pleito, confesso que me senti desconfortável com tudo aquilo e embora eu estivesse num ambiente maravilhoso, com uma linda vista para a piscina de borda infinita que, parecia misturar-se ao mar logo em frente, abastecida por uma cascata lindíssima que, fazia uma pequena névoa ao chocar-se com a lâmina d'água e sendo interpelado várias vezes pelos garçons do evento se eu desejava me servir disso ou daquilo, ainda sim senti-me deslocado ali...

Em outra oportunidade, tive uma audiência de trabalho com o prefeito da minha cidade (que mais tarde seria o governador do estado). No corredor de acesso ao gabinete, havia lindos quadros de valores vultosos, móveis finos junto a outros caros vasos. Antes de sentar-me próximo ao prefeito, meus sapatos ‘afundaram’ em um tapete muito macio. Ali entre um assunto e outro ficava lembrando de quantas vezes havia sujado aquele mesmo sapato por não haver asfalto nas ruas que eu precisava usar todos os dias, mas claro que políticos não pisam em lama na maior parte de seus mandatos. Seus filhos não disputam vagas em escolas públicas, suas famílias quando precisam de pronto atendimento em saúde, o fazem no Albert Einstein ou Sírio Libanês, entre outros...

Há um certo alvoroço recente pelas prisões de políticos de alto escalão no país, mas a verdade é que nenhum deles vai receber a punição devida, não ficarão presos por muito tempo. E de quem é a culpa? Minha que não é pois sei o que é votar de forma decente. A culpa é de todo brasileiro retardado que gosta de musiquinha (jingle) de campanha; culpa daquele que acha uma honra um político entrar em sua casa em época eleitoral pra pedir votos e quando vai embora e é eleito continua te deixando literalmente na lama; culpa de quem acha correto os "cafézinhos" para se livrarem de multas e coisas parecidas (gente assim é tão bandida quanto qualquer um desses corruptos) e principalmente, a culpa pela desgraça política nesse país é de quem fala que política é uma m... porque são justamente esses, que fazem m... na hora de votar e deixam o Brasil na m... e a m... respinga em quem NÃO FAZ M...


sábado, 6 de junho de 2020

Meu troco de 5 cents




Certa vez, recebi 5 centavos de troco... até aí nada demais... Incomum foi o fato de ser 5 cents de Euro (talvez pela semelhança com a moedinha brasileira quem a passou pra mim, não percebeu). Na cotação daquele dia deveria valer bem mais que o triplo da sua equivalente em Real... Pra não fugir ao hábito, costumo tirar lições de coisas variadas e muitas vezes das mais simples e óbvias...

Muitas vezes, passamos de "mão em mão" e as pessoas não reconhecem nosso verdadeiro valor... nos veem valer apenas "5 centavos" quando sabemos que valemos muito mais... Mas independente daqueles que não nos valorizam, há algo que nunca vai mudar - nosso VALOR! E se outros não enxergarem isso em nós, a culpa não é nossa e sim deles - CEGOS! Acima de tudo, querendo ou não nossos detratores, SEMPRE VALEREMOS MUITO MAIS e nada mudará este FATO.

sábado, 30 de maio de 2020

O vendaval*



Tempos atrás, no litoral de São Paulo onde nasci, um vendaval causou muitos estragos... Árvores foram arrancadas, carros danificados e entre outras coisas, muitas telhas foram lançadas longe espatifado-se pelo chão. 

A maior parte delas por uma simples razão... Parte dos moradores da região costumavam manter as telhas de suas casas apenas encaixadas ou com algum 'peso' em cima, ignorando assim completamente uma boa fixação por parafusos. 

Quando penso na tolice que essas pessoas cometeram, recebendo o resultado do "barato que saiu caro", lembro que fazemos muitas vezes coisas parecidas a essa em outros aspectos da vida. 

Não estamos, quem sabe, "parafusados" em algo sólido na nossa caminhada, quando de repente, somos surpreendidos pelos "vendavais", jogados ao chão, quebrados, feitos aos pedaços, humilhados, sem valor... Apenas para depois termos os "cacos" recolhidos e descartados como se nunca houvéssemos sido úteis, como se nada fôssemos... 

Por isso penso que, se quero ter algum valor, se quero ser útil, se quero ser alguém, para eu mesmo e para outros, então é melhor que eu saiba onde estou FIRMADO, para que eu saiba QUEM SOU e PARA ONDE VOU!!!



*Escrito originalmente em 07 de setembro de 2013


domingo, 24 de maio de 2020

Chave perdida*

Há alguns anos, precisei resolver uma série de compromissos no centro de Santos. Voltando ao estacionamento onde havia deixado minha moto percebi, para a minha agonia, que não encontrava a chave. Procurei em todos os bolsos, em meus documentos, pasta, e nada... Então fiz o que todo mundo faz numa hora assim... Refiz o caminho, olhando para o chão como quem quisesse não deixar escapar um trecho ou centímetro sem ver, por não olhar com atenção para carros e pedestres, esbarrei várias vezes nos outros e fui quase atropelado uma dezena de vezes... Então voltei frustrado por não ter tido sucesso, andando devagar e desanimado imaginando a dificuldade que seria ir atrás de um chaveiro, comprovar que a moto era a minha, explicar pro gerente do estacionamento... etc, etc... Até que numa tentativa incrédula, perguntei a um dono de banca, na Praça da República,
(foto: Carlos Pimentel Mendes, em 6 de junho de 2007)

 se ele havia visto alguém encontrar uma chave como a minha... Já estava preparado para ouvir NÃO, quando ouvi um SIM (e olha que eu nem ia perguntar nada, ia passar direto)... Aquele homem então me disse: "Agora há pouco vi dois pedintes que guardam carros aqui na praça que disseram ter encontrado uma chave... Mas acho que saíram e voltam daqui a pouco"... Então resolvi esperar... Agora com um "fiapinho" de esperança... Passados alguns minutos, o homem me disse: "São eles"... corri até o tal pedinte (de mal aspecto todo maltrapilho) e perguntei: "Amigo perdi a chave da minha moto, e alguém me disse que você e seu amigo, talvez tenham achado uma???"... E aí o homem desfez a cara carrancuda e me disse... 'Sim guardei-a ali...' E me chamou até uma das tantas árvores que existem na praça e cuidadosamente guardada, lá estava ela... Que alívio!!! E ele me surpreendeu dizendo: "Deus me disse pra guardar a chave"... Grato, perguntei: Vocês almoçaram? E eles disseram: 'Não temos dinheiro'... Não pensei nenhum segundo e saquei uma quantidade razoável de dinheiro que nem sequer contei e entreguei a eles (era suficiente para entrarem num dos bons restaurantes da cidade e comerem muito bem)... Aí veio o chocante... Um deles ajoelhou-se aos meus pés (mas eu pedi que ele não fizesse isso, mas nem me ouviu) e agradeceu pelo dinheiro me dando um abraço forte e demorado e pediu pro outro amigo me abraçar também... Na verdade, eu estava tão feliz quanto eles... mas já não era mais pelas chaves... estava feliz por ter sido útil, por ter feito diferença pra aquelas pessoas... Na verdade, Deus pode usar as situações mais adversas para nos ensinar algo... Reafirmei naquele dia em mim, algo que acredito como fundamental.. "Nós não somos 'ilhas' somos na realidade e no mínimo - 'penínsulas', parte de algo muito maior, dependentes do 'continente'... Posso dizer a você que algo aparentemente tão simples assim (alguém encontrar uma chave e devolvê-la), foi uma das 'melhores perdas' da minha vida... Foi o dia em que perdi pouco e em troca ganhei MUITO"...

Escrito originalmente em 31 de agosto de 2013

domingo, 17 de maio de 2020

Placa fria*

Há alguns anos estive em um edifício lindíssimo!




Dentro dele há um complexo com lagos, cisnes, lindas carpas e até

um museu com carros de luxo do século passado, há também lindos animais que percorrem a área verde
e num dia lindo de sol, no alto do décimo andar, meu pai e eu olhávamos extasiados a bonita Santos e o lindo azul do oceano atlântico...

Caso você não conheça o local, seria difícil acreditar na minha afirmação de que estávamos no cemitério mais alto e num dos mais luxuosos do mundo.
Enquanto sepultava mais uma pessoa da minha família notei que os funcionários retiravam um saco azul que continha os restos mortais de um primo que para uma inevitável auto reflexão, quando vivo era muito parecido comigo (embora 5 anos mais jovem) que falecera em razão de uma tragédia, amplamente divulgada pela imprensa na época... Ai fiquei pensando enquanto olhava a cena e as outras lápides ao redor: "a gente corre, luta, chora, sorri.... sejamos quem formos ou tenhamos o que tivermos... Não importa se num cemitério de luxo ou numa cova rasa... Todos temos um limite, que nos iguala... Somos irmãos e humanos, na vida e na morte... Devemos ter em mente que antes de virarmos apenas um nome numa placa fria, podemos viver de modo pleno e digno, tornando a vida o que ela realmente é: Linda!!!"


*Escrito originalmente em 24 de agosto de 2013

sábado, 9 de maio de 2020

Desvio de rota



Eu estudava longe de casa e de segunda a sexta-feira eu fazia um percurso de cento e quarenta quilômetros.
Certo dia, deixei de ir em ônibus e preferi fazer o caminho de moto que era mais rápido e mais prático. Verifiquei tudo e parti em direção a Rodovia dos Imigrantes, caminho já conhecido pro mim. Cheguei para a aula sem problemas e ao fim de uma tarde muito produtiva de estudos, observei na saída do edifício que durante o tempo passado lá dentro, uma tempestade se formava rápida e turbulenta.
Eu não havia me preparado pra isso, tanto que não havia levado roupa protetora de chuva, mas confiava que antes que o temporal me atingisse, eu chegaria a tempo em casa.

Saí do estacionamento em direção ao centro da cidade e logo me deparei com os semáforos que pareciam mais demorados do que o costume. Acessei a Rodovia Anchieta com a intenção de me livrar rápido de seu intenso tráfego de caminhões que seguiam, em sua maioria para o porto de Santos e então, aliviado, peguei o acesso que me levaria a Imigrantes, que por sua vez me levaria rapidamente pra casa.
Como era fim de tarde, o clarão vespertino de repente havia se apagado e uma chuva fina me alcançou. Com pressa de não molhar-me mais, acelerei próximo do limite da rodovia mas o bom senso pela pista estar molhada me chamou a razão e desacelerei. Já aceitava como certo o “caldo” que levaria, sendo que instantes depois meu problema seria outro.

Enquanto divagava sobre a chateação que aquela chuva me causava, sem perceber, peguei um acesso que seguia para o interior do estado, que me afastava cada vez mais do meu destino. Depois de alguns minutos ao notar algo errado, liguei o GPS que eu tinha acoplado no painel e então vi o quanto eu já distava da minha rota original e o pior é que o retorno mais próximo ficava a dezenas de quilômetros e eu não tinha combustível suficiente para tanto. Minha tranquilidade virou uma enorme apreensão, enquanto a tempestade caía, o combustível se esvaía, carretas enormes passavam a toda velocidade por mim e eu já me imaginava no mínimo, passando a madrugada na estrada, sem poder ligar o celular embaixo de chuva e no máximo, morto embaixo daqueles eixos enormes.
Mas então resolvi parar no acostamento, me acalmar, e então calcular o que poderia fazer. Decidi buscar no mapa eletrônico, minha posição real e buscar mais rotas possíveis e um caminho alternativo apareceu na tela. Para minha grata satisfação, calculei que o que eu tinha de combustível era possível chegar a uma cidade que certamente teria um posto de combustível, que me resolveria a vida naquele momento. E assim eu fiz.
Imagine a alegria de encontrar um posto e ver a pessoa “mais linda do mundo”, motivo do meu sorriso: um frentista que eu nunca havia visto na vida!

Uma vez abastecido, segui de volta pra casa e a chuva já não me incomodava, nem o frio, nem a escuridão, nem o tempo perdido. O alívio de voltar em paz tornara todos os outros desconfortos em nada.
Daquele momento aprendi coisa para o tempo presente: aprendi que costumamos pegar estradas conhecidas na vida mas essa mesma estrada pode ser perdida, a depender do fator tempo, clima; aprendi que o desespero vem, mas que saídas também existem, muitas vezes não são as desejadas mas nem por isso deixam de ser saídas; aprendi que calma em meio ao desespero é possível embora muitas vezes nos pareçam impossível, mas ela funciona apenas se for solidificada em tempo de céu azul e vento fresco no rosto; aprendi que nem sempre o que eu sei funciona e que é necessário consultar um “GPS” pra acertar a rota; aprendi que a mesma chuva que faz crescer o alimento pra vida, pode causar morte quando estamos expostos a toda força por ela produzida; aprendi também que infelizmente, somos afligidos por circunstâncias que pareciam nunca mais tornar a repetir-se mas que vem sem aviso ou atenuações. Também foi possível aprender que mesmo que sejamos expostos a sofrimentos muitas vezes excruciantes, ainda sim, apesar deles, é possível encontrar um novo motivo para caminhar. 
Vai doer, vai ferir mas pode acreditar, a felicidade vai aparecer.
 Vai!

sábado, 2 de maio de 2020

Tanque seco



Em Maio de 2018 o Brasil viveu um período conturbado entre os dias 21 e 30 daquele mês, durante o governo do presidente Michel Temer.

O estopim para a greve de caminhoneiros autônomos (Crise do diesel), foram os reajustes frequentes e sem previsibilidade mínima nos preços dos combustíveis, principalmente do óleo diesel, realizados pela estatal Petrobras com frequência diária, pelo fim da cobrança de pedágio por eixo suspenso e pelo fim do PIS/Confins sobre o diesel.

Milhões de brasileiros, entre eles eu, desconheciam os detalhes geradores da crise, mas a sentiam na prática.

Em postos de combustível no Brasil, abastecer é até mais confortável do que nos Estados Unidos, onde para abastecer você precisa descer do carro, inserir o seu cartão de crédito, desengatar o injetor e abastecer. Já em nosso país, não temos a cultura do autoatendimento e contamos com o serviço de funcionários para isso, bastando entregar a chave, pagar e seguir viagem sem sair do conforto do banco. Algo rotineiro assim virou ‘passado’ na crise, e passamos a enfrentar filas enormes para abastecer, ou deixar o carro na garagem para usar o transporte publico, aulas foram suspensas, empresas fechadas, milhões de animais morreram por falta de ração, supermercados beiravam o vermelho no estoque, enfim, o caos parecia estabelecido.

Os nove dias de tumulto pareceram muitas semanas, em função dos transtornos causados, mas lembro que ao fim daquele período, o simples exercício de olhar para o odômetro, concluir a necessidade de combustível, escolher um posto, entrar e ter à espera o prestativo trabalho de um colaborador local, me traziam o alívio de ter de volta aquele serviço tão essencial e básico de nossa rotina.

Nosso olhar também foi voltado em especial para o caminhoneiro, trabalhador que quase literalmente leva o Brasil sobre seus eixos, sem o qual a nação para.

As coisas que nos cercam não são perenes, é preciso dar valor a todas as pessoas que desempenham as mais diferentes atividades e que nos possibilitam, pelos recursos que produzem e pelo serviço que prestam, conviver em sociedade.

sábado, 25 de abril de 2020

"Outrem ou ou-trem?"



Se há algo que nos tira o chão dos pés e nos deixa com cara de paisagem, é quando um momento desconcertante derruba uma certeza que temos.

Durante alguns anos apresentei um programa de rádio, sendo que há muitos anos também, mais precisamente desde a infância, falar com desenvoltura para públicos diversos e com raríssimos erros em língua portuguesa, era comum e habitual para mim.

Ao optar por uma carreira profissional, escolhi jornalismo como uma carreira aparentemente óbvia. Com alguns dias de atraso, cheguei em minha primeira aula. Era fascinante, meu sentimento era de estar no lugar certo, sentia-me confortável, feliz e confiante na escolha que eu havia feito.

Em pouco tempo, fui convidado a apresentar um evento dentro da universidade que fazia parte de nossa grade curricular e senti uma alegria indescritível quando fui reconhecido no encerramento do projeto, como destaque entre os estudantes de comunicação da instituição, por haver desempenhado com êxito o que tinha sido proposto. Um auditório repleto de estudantes e professores, alguns doutores em suas áreas, ficaram de pé e me aplaudiram demoradamente. Para um calouro aquilo era uma espécie de estadia no Olimpo.

Se eu parasse o texto aqui talvez você pensasse que a minha estadia no ‘panteão’ foi livre de percalços... bem... não foi.

No período de produção do projeto mencionado, eu tinha que apresentar um programa de rádio ao vivo com uma colega de bancada. Cheguei com uma autoconfiança de aspecto inabalável por aquela experiência em rádio que mencionei no início deste texto. Eu achava que sabia fazer aquilo, até o momento que meu professor me provou o contrário, apontando erros que eu não enxergava em minha atuação. Lembro que fui da euforia ao sentimento de estranheza, pois para mim, era habitual ouvir que eu era bom no que fazia. Não que eu tenha sido desestimulado por meu professor, um grande jornalista, mas porque ele apontou o que eu parecia não querer enxergar.

Em outro momento, numa aula de língua portuguesa, minha professora pediu para que eu fizesse a leitura de um texto clássico. A narração transcorria muito bem até tropeçar numa palavra simples mas que não fazia parte do meu vocabulário cotidiano: ‘outrem’ saiu com uma pronúncia quebrada, algo como ‘ou-trem’ e essa única palavrinha parecia ter derrubado a leitura promissora que até então eu fazia. Antes que minha professora me corrigisse, uma colega que hoje apresenta um programa numa grande emissora de TV, apressou-se na correção com um divertido sorriso.

Situações curiosas e até comuns como essas tem me feito lembrar ao longo do tempo, que nós devemos caminhar sempre sedentos de conhecimento, tendo a humildade como companheira e entendendo que há múltiplos modais de conhecimento. Admiro homens e mulheres que embora sejam reconhecidos como experts em suas áreas de conhecimento, entendem que há prazer em dividir conhecimento e não em estocá-lo.

Houve um tempo em que eu não entendia que, más experiências podem ser grandes fontes de aprendizado, hoje porém, procuro extrair o máximo de todas as situações vividas, para que o tropeço, quando inevitável, se dê em outras pedras... não as mesmas.

sábado, 18 de abril de 2020

Prazer e dor à mesa



Era 2001, quando num período de carnaval, viajei com um grande grupo de amigos ao Vale do Ribeira em São Paulo, região que faz divisa com o Paraná. Participávamos de um retiro da folia, em meio a uma natureza exuberante na cidade de Sete Barras. Naquela pequena comunidade, era habitual ver os moradores em seu cotidiano: homens ostentando chapéu de palha e conduzindo seus cavalos, donas de casa “janeleando”, crianças correndo molhadas de um refrescante e divertido banho de rio.

Lembro das coisas que fizeram daquele lugar, um bom motivo pra voltar mesmo depois de tantos anos: iogurte caseiro feito com leite da fazenda, em nada comparado com o que se compra em supermercados, céu limpo de poluição permitindo uma nítida imagem da Via láctea com um número incrível de estrelas, impossíveis de ver na região metropolitana em que nasci, o frescor das doces e frescas águas de rio tão desfrutadas por aquelas crianças serelepes, o cheiro de mato e ar limpo, o silêncio noturno quebrado apenas ocasionalmente pelo ruído de alguns poucos carros e a cadência da marcha de cavalos e seus cascos ao solo.

Mas na vida, nada parece fugir ao fato de que tudo tem dois lados e naquele sossego de interior, após andar por trilhas que margeavam um belo e caudaloso rio, fiquei frente a uma cena de horror, que embora seja comum na cadeia alimentar humana e no dia a dia de homens do campo, me causou profunda tristeza, repulsa e senso de impotência. Com as patas amarradas por grossas cordas e um olhar de horror, um novilho era mortalmente golpeado por uma faca imensa e afiada, debatendo-se e tremendo em uma imensa poça de sangue. O assassino, sim, assassino não há outro nome, parecia se divertir junto a outro grupo de companheiros, com o único objetivo de que o animal morresse logo para que eles obtivessem o que queriam, e olharam a mim e a meus amigos que naturalmente se assustaram com a cena, como se fossemos fracos e eles fortes pela consumação daquela horrenda tarefa.

Hoje essa prática ainda é comum pelo mundo afora, mas é pequena, comparada a grande indústria agropecuária, que autoproclama um abate rápido para o gado de corte, uma alardeada “humanidade” para com os deliciosos e rentáveis animais de seus rebanhos. Sabemos que há muita propaganda e nem sempre grande efetividade no que se diz por parte desses grandes industriais.

O fato é que nos banqueteamos com o cadáver de animais, dos mais diferentes portes e raças sob o pretexto de que o corpo humano depende, desse tipo de alimentação. Não vou entrar na discussão do certo e errado, e sim na reflexão que me permite este blog e a livre escrita que materializa ideias e opiniões.

Não sou vegetariano, mas por muito tempo adotei o vegetarianismo e confesso admirar essa forma de viver e comer. A sensação de corpo limpo de impurezas e vitalidade, são notórias, ao contrário do que pensam muitas pessoas que pensam que vegetarianos come apenas ‘mato’. Não sinto falta de carne de nenhuma espécie, embora ocasionalmente apareça no cardápio.

O presente texto, visa apenas uma reflexão, longe de pretender moralizar o discurso ou incomodar a você meu caro leitor, fala-se aqui apenas da forma como observo a pauta em questão.

Penso que nenhum prazer à mesa justifica a dor de uma vida inocente. Minhas resoluções nesse sentido, seguem em curso.

sábado, 11 de abril de 2020



Navio na neblina




Era o começo da década de 1990, minha família e eu estávamos voltando da visita que fizemos, em um certo dia, a uma tia minha. Morávamos em Guarujá e vindos de São Vicente, precisávamos navegar em uma barca que fazia a travessia do canal do estuário entre uma ilha e outra.

A travessia era costumeira, sendo feita ainda hoje, da mesma forma que há 30 anos. Mas algo habitual e rápido como esse percurso, tornou-se uma aventura tensa e perigosa, trazendo-nos momentos angustiantes.

A noite era nublada, mas não esperávamos uma repentina e intensa cerração, que desceu como uma imensa e pesada cortina a frente da embarcação, obrigando o comandante a parar a navegação. Com o desligar dos motores, a ventania balançava a barca, fazendo com que uma certa quantidade de água invadisse o primeiro piso, eu conseguia sentir os meus batimentos cardíacos resultantes do medo daquele momento. Havia o temor de que uma colisão com outra embarcação pudesse acontecer.

Alguns instantes depois, o receio parecia se materializar e assustadoramente um navio atracado ao cais, apareceu bem a nossa frente, fazendo com que o desastre parecesse inevitável. A ventania tinha tirado a nossa embarcação da rota correta e nos levado em direção a um imenso cargueiro transcontinental. Sentimos, para o nosso alívio e das dezenas de pessoas que estavam conosco, o ronco dos motores que com perícia e agilidade, foram acionados pelo comandante a tempo de nos desviar do impacto que parecia certo.

Não muito tempo depois, a neblina cedeu e pudemos então chegar ao nosso destino.

Que alívio sentimos ao pisar em terra firme, embora a memória daqueles instantes parecessem não se dissipar como a neblina que nos causou pânico.

Desse acontecimento fiz uma analogia com outras circunstâncias da vida: em nossa trajetória temos sempre a ideia de que decidiremos ir de um lugar a outro, de uma situação a outra, de uma decisão a outra, sem ponderar a ocorrência de possíveis intempéries. Quando estas aparecem, o medo parece ser a única coisa possível pois o otimismo parece não existir quando o fatal parece assumir o lugar do vital.

É bem verdade que muitas tempestades e densas neblinas, abatem e levam a pique muitas embarcações, mas nem sempre será a nossa. Sendo assim, voltar a navegar pode não ser das coisas mais fáceis a se fazer, mas é possível, porque só assim é possível chegar ao outro lado.

Uma história contada por meu pai

  Acho interessante quando, mesmo em meio a era da internet de alta velocidade, com todas as inovações por ela trazidas, pais ainda contam ...