Acho interessante quando, mesmo em meio a era da internet de alta velocidade, com todas as inovações por ela trazidas, pais ainda contam histórias a seus filhos, usando livros a cabeceira da cama ou em meio a um bate papo na sala de casa, numa reunião familiar, quando os filhos já são crescidos. Assim foi, que ouvi e concluí com muito orgulho, uma história vivida por meu pai, antes não sabida.
Há alguns anos, quando trabalhava como motorista profissional na cidade de Guarujá, conhecida como “a pérola do Atlântico”, conduzindo um ônibus de transporte coletivo, acidentalmente, após o desembarque de um passageiro com sua esposa, movimentou o ônibus para a partida, derrubando as sacolas de compras do casal. Muito agressivo, o homem vociferou muitos palavrões e investiu contra o ônibus com pancadas e ameaças, indo embora ainda esbravejando.
Meu pai me confessou ter ficado triste pelo episódio. No entanto, dia depois, dirigindo pela cidade, reconheceu o cidadão furioso daquele dia e então resolveu pedir licença ao passageiros para ir falar com o homem:
- “Olha, eu sou o motorista que derrubou sem querer as suas compras, o ônibus é grande e o senhor estava fora do meu campo de visão… quero pedir desculpas e dizer que não foi por mal… e pagar qualquer prejuízo que tenha tido”…
Ao que o homem respondeu:
- “Imagina, fiquei aborrecido de momento, mas o senhor não me deve nada”…
Meu pai conta que se despediram com um cumprimento pacífico e desejos mútuos de sucesso…
Meu pai sempre foi um homem maravilhoso, trabalhador e amoroso… No entanto, algumas vezes se deixava levar por um temperamento “pavio curto” que se mostrou evidente por várias vezes no decorrer de sua vida. Mas, ao viver a experiência de um novo caminho de fé, que o levou a uma autoexame de consciência, passou a cada vez menos, esboçar momentos de aborrecimento explícito.
Não… Ele não zerou essa questão em sua vida, vez ou outra se mostra chateado mas em muito menor proporção do que no passado. O que temos dele, é cotidianamente, um homem de fé, de valores e princípios e que demonstra amor aos que o cercam e que o amam também.
A história acima, contada por ele, tende a ser algo simples, porém de grande valor pois o caminho da superação do próprio ego e da oferta do perdão é algo de que o mundo precisa de forma urgente. Se assim fosse, viveríamos num mundo de paz e de amor constante.
Que bom, ter em meu pai, um exemplo de que o ser humano pode e deve ser cada vez melhor.