Talvez o primeiro do qual me lembre, é um telefone de corpo amarelo e base vermelha, que era muito bonito, tinha um discador funcional, um fio em formato espiral e era de um acrílico bem resistente ainda sim era bem leve. Tenho uma foto com ele de quando eu tinha uns 3 anos e minha irmã era ainda bebê. A partir de então, tive muitos brinquedos, como carrinhos que se moviam por fricção, tive uns dois “Trombada” que eram carrinhos famosos na época por simularem colisões os deformavam e que voltavam ao normal apenas fechando suas portas; lembro também de um avião que simulava decolagem e aterrissagem da extinta aérea norte-americana – PanAm; um ônibus eletrônico que era réplica dos que eram usados no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris; um lindíssimo Mercedes-Benz sedã em escala 1/24 e muitos mais.
Curiosamente nunca tive vídeo-game, por uma razão muito simples, meus pais acreditavam que não era o tipo de brinquedo que fosse boa influência, apesar de vez ou outra, terem me permitido jogar na casa de amigos, jogos de corrida ou de desafios, mas nunca de batalhas ou lutas. Depois de adulto, continuei a gostar do mesmo tipo de ‘game’ e nas raras vezes que uso um jogo no computador, os temas são: simulação de voo e corrida ou desafios como desvendar enigmas e ainda jogos de xadrez. Até hoje não suporto jogos de luta por exemplo. Não entendia, como colegas meus amavam gastar dinheiro em fliperamas, sendo tão viciados que davam socos na máquina, quando perdiam uma ‘luta’. Mesmo com grandes hardwares como Playstation e Xbox atualmente, não me animo com esses tipos de jogos.
O que me faz relembrar essa parte da minha infância hoje, é um tipo de paradoxo que não somente eu mas como qualquer criança que chega a idade adulta, vive.
Nossos brinquedos expressam a vontade de deixarmos logo de ser criança pra ser gente grande. ‘Dirigindo’ nossos carrinhos por estradinhas feitas na terra, ‘pilotando’ nossos aviõezinhos com propulsão manual ou ainda enchendo de água o tanque de casa pra ‘navegar’ com nossos inafundáveis barquinhos ou naviozinhos.
Quando crianças ignoramos as pressões da vida adulta que são o ‘outro lado da brincadeira’ e que somente são conhecidas quando ‘chegamos lá’. Somente então é que o paradoxo que citei aqui, começa a ‘dar as caras’. Olhamos para o passado e pensamos em quão bom seria que nossa única preocupação com o carro, fosse buscá-lo na caixa de brinquedos e não listarmos mentalmente o IPVA, DPVAT, Licenciamento Anual, revisão, manutenção, acidentes, insegurança… Ou ainda, que nossos filhos precisassem apenas de serem guardados naquela mesma caixa, com roupinhas que ‘sujam’ apenas na imaginação das mamães de bonecas com suas mamadeiras de 5 ou 10 ml de água e não precisassem de educação, vestimenta, alimentação, assistência médica e odontológica e a lista segue…
Claro que você entendeu que não estou dizendo, que filhos sejam dispensados desses cuidados. Minha argumentação tem a ver com o paradoxo e não com o amor que temos por nossa prole.
A verdade é que adultos não podem regressar para sua infância mas as crianças irão tornar-se adultas, portanto, pessoas grandes devem fazer tudo o que tiver ao seu alcance para que crianças vivam apenas a sua infância. Sim, com carinhos, bonecas, jogos mas longe da erotização ou vícios dos adultos que não tiveram, por qualquer razão, uma infância saudável.
Não estou afirmando também que a vida adulta seja somente de fardos, aliás, está muitas vezes em nossas mãos, buscar um pouco das nossas raízes em nossos primeiros anos; não poderemos mais entrar em um ‘Delorean’ e voltar para nossa caixa de brinquedos, mas algo daquela época ainda está em nós e sendo assim, podemos relembrar esses momentos e deles tirar alguns bons aprendizados e valores, seguindo então pela vida com mais leveza.
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