sábado, 18 de abril de 2020

Prazer e dor à mesa



Era 2001, quando num período de carnaval, viajei com um grande grupo de amigos ao Vale do Ribeira em São Paulo, região que faz divisa com o Paraná. Participávamos de um retiro da folia, em meio a uma natureza exuberante na cidade de Sete Barras. Naquela pequena comunidade, era habitual ver os moradores em seu cotidiano: homens ostentando chapéu de palha e conduzindo seus cavalos, donas de casa “janeleando”, crianças correndo molhadas de um refrescante e divertido banho de rio.

Lembro das coisas que fizeram daquele lugar, um bom motivo pra voltar mesmo depois de tantos anos: iogurte caseiro feito com leite da fazenda, em nada comparado com o que se compra em supermercados, céu limpo de poluição permitindo uma nítida imagem da Via láctea com um número incrível de estrelas, impossíveis de ver na região metropolitana em que nasci, o frescor das doces e frescas águas de rio tão desfrutadas por aquelas crianças serelepes, o cheiro de mato e ar limpo, o silêncio noturno quebrado apenas ocasionalmente pelo ruído de alguns poucos carros e a cadência da marcha de cavalos e seus cascos ao solo.

Mas na vida, nada parece fugir ao fato de que tudo tem dois lados e naquele sossego de interior, após andar por trilhas que margeavam um belo e caudaloso rio, fiquei frente a uma cena de horror, que embora seja comum na cadeia alimentar humana e no dia a dia de homens do campo, me causou profunda tristeza, repulsa e senso de impotência. Com as patas amarradas por grossas cordas e um olhar de horror, um novilho era mortalmente golpeado por uma faca imensa e afiada, debatendo-se e tremendo em uma imensa poça de sangue. O assassino, sim, assassino não há outro nome, parecia se divertir junto a outro grupo de companheiros, com o único objetivo de que o animal morresse logo para que eles obtivessem o que queriam, e olharam a mim e a meus amigos que naturalmente se assustaram com a cena, como se fossemos fracos e eles fortes pela consumação daquela horrenda tarefa.

Hoje essa prática ainda é comum pelo mundo afora, mas é pequena, comparada a grande indústria agropecuária, que autoproclama um abate rápido para o gado de corte, uma alardeada “humanidade” para com os deliciosos e rentáveis animais de seus rebanhos. Sabemos que há muita propaganda e nem sempre grande efetividade no que se diz por parte desses grandes industriais.

O fato é que nos banqueteamos com o cadáver de animais, dos mais diferentes portes e raças sob o pretexto de que o corpo humano depende, desse tipo de alimentação. Não vou entrar na discussão do certo e errado, e sim na reflexão que me permite este blog e a livre escrita que materializa ideias e opiniões.

Não sou vegetariano, mas por muito tempo adotei o vegetarianismo e confesso admirar essa forma de viver e comer. A sensação de corpo limpo de impurezas e vitalidade, são notórias, ao contrário do que pensam muitas pessoas que pensam que vegetarianos come apenas ‘mato’. Não sinto falta de carne de nenhuma espécie, embora ocasionalmente apareça no cardápio.

O presente texto, visa apenas uma reflexão, longe de pretender moralizar o discurso ou incomodar a você meu caro leitor, fala-se aqui apenas da forma como observo a pauta em questão.

Penso que nenhum prazer à mesa justifica a dor de uma vida inocente. Minhas resoluções nesse sentido, seguem em curso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uma história contada por meu pai

  Acho interessante quando, mesmo em meio a era da internet de alta velocidade, com todas as inovações por ela trazidas, pais ainda contam ...