Há alguns anos, precisei resolver uma série de compromissos no centro de Santos. Voltando ao estacionamento onde havia deixado minha moto percebi, para a minha agonia, que não encontrava a chave. Procurei em todos os bolsos, em meus documentos, pasta, e nada... Então fiz o que todo mundo faz numa hora assim... Refiz o caminho, olhando para o chão como quem quisesse não deixar escapar um trecho ou centímetro sem ver, por não olhar com atenção para carros e pedestres, esbarrei várias vezes nos outros e fui quase atropelado uma dezena de vezes... Então voltei frustrado por não ter tido sucesso, andando devagar e desanimado imaginando a dificuldade que seria ir atrás de um chaveiro, comprovar que a moto era a minha, explicar pro gerente do estacionamento... etc, etc... Até que numa tentativa incrédula, perguntei a um dono de banca, na Praça da República,
(foto: Carlos Pimentel Mendes, em 6 de junho de 2007)
se ele havia visto alguém encontrar uma chave como a minha... Já estava preparado para ouvir NÃO, quando ouvi um SIM (e olha que eu nem ia perguntar nada, ia passar direto)... Aquele homem então me disse: "Agora há pouco vi dois pedintes que guardam carros aqui na praça que disseram ter encontrado uma chave... Mas acho que saíram e voltam daqui a pouco"... Então resolvi esperar... Agora com um "fiapinho" de esperança... Passados alguns minutos, o homem me disse: "São eles"... corri até o tal pedinte (de mal aspecto todo maltrapilho) e perguntei: "Amigo perdi a chave da minha moto, e alguém me disse que você e seu amigo, talvez tenham achado uma???"... E aí o homem desfez a cara carrancuda e me disse... 'Sim guardei-a ali...' E me chamou até uma das tantas árvores que existem na praça e cuidadosamente guardada, lá estava ela... Que alívio!!! E ele me surpreendeu dizendo: "Deus me disse pra guardar a chave"... Grato, perguntei: Vocês almoçaram? E eles disseram: 'Não temos dinheiro'... Não pensei nenhum segundo e saquei uma quantidade razoável de dinheiro que nem sequer contei e entreguei a eles (era suficiente para entrarem num dos bons restaurantes da cidade e comerem muito bem)... Aí veio o chocante... Um deles ajoelhou-se aos meus pés (mas eu pedi que ele não fizesse isso, mas nem me ouviu) e agradeceu pelo dinheiro me dando um abraço forte e demorado e pediu pro outro amigo me abraçar também... Na verdade, eu estava tão feliz quanto eles... mas já não era mais pelas chaves... estava feliz por ter sido útil, por ter feito diferença pra aquelas pessoas... Na verdade, Deus pode usar as situações mais adversas para nos ensinar algo... Reafirmei naquele dia em mim, algo que acredito como fundamental.. "Nós não somos 'ilhas' somos na realidade e no mínimo - 'penínsulas', parte de algo muito maior, dependentes do 'continente'... Posso dizer a você que algo aparentemente tão simples assim (alguém encontrar uma chave e devolvê-la), foi uma das 'melhores perdas' da minha vida... Foi o dia em que perdi pouco e em troca ganhei MUITO"...
Escrito originalmente em 31 de agosto de 2013
Escrito originalmente em 31 de agosto de 2013
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