Se há algo que nos tira o chão dos pés e nos deixa com cara de
paisagem, é quando um momento desconcertante derruba uma certeza que
temos.
Durante
alguns anos apresentei um programa de rádio, sendo que há muitos
anos também, mais precisamente desde a infância, falar com
desenvoltura para públicos diversos e com raríssimos erros em
língua portuguesa, era comum e habitual para mim.
Ao
optar por uma carreira profissional, escolhi jornalismo como uma
carreira aparentemente óbvia. Com alguns dias de atraso, cheguei em
minha primeira aula. Era fascinante, meu sentimento era de estar no
lugar certo, sentia-me confortável, feliz e confiante na escolha que
eu havia feito.
Em
pouco tempo, fui convidado a apresentar um evento dentro da
universidade que fazia parte de nossa grade curricular e senti uma
alegria indescritível quando fui reconhecido no encerramento do
projeto, como destaque entre os estudantes de comunicação da
instituição, por haver desempenhado com êxito o que tinha sido
proposto. Um auditório repleto de estudantes e professores, alguns
doutores em suas áreas, ficaram de pé e me aplaudiram
demoradamente. Para um calouro aquilo era uma espécie de estadia no
Olimpo.
Se
eu parasse o texto aqui talvez você pensasse que a minha estadia no
‘panteão’ foi livre de percalços... bem... não foi.
No
período de produção do projeto mencionado, eu tinha que apresentar
um programa de rádio ao vivo com uma colega de bancada. Cheguei com
uma autoconfiança de aspecto inabalável por aquela experiência em
rádio que mencionei no início deste texto. Eu achava que sabia
fazer aquilo, até o momento que meu professor me provou o contrário,
apontando erros que eu não enxergava em minha atuação. Lembro que
fui da euforia ao sentimento de estranheza, pois para mim, era
habitual ouvir que eu era bom no que fazia. Não que eu tenha sido
desestimulado por meu professor, um grande jornalista, mas porque ele
apontou o que eu parecia não querer enxergar.
Em
outro momento, numa aula de língua portuguesa, minha professora
pediu para que eu fizesse a leitura de um texto clássico. A narração
transcorria muito bem até tropeçar numa palavra simples mas que não
fazia parte do meu vocabulário cotidiano: ‘outrem’ saiu com uma
pronúncia quebrada, algo como ‘ou-trem’ e essa única palavrinha
parecia ter derrubado a leitura promissora que até então eu fazia.
Antes que minha professora me corrigisse, uma colega que hoje
apresenta um programa numa grande emissora de TV, apressou-se na
correção com um divertido sorriso.
Situações
curiosas e até comuns como essas tem me feito lembrar ao longo do
tempo, que nós devemos caminhar sempre sedentos de conhecimento,
tendo a humildade como companheira e entendendo que há múltiplos
modais de conhecimento. Admiro homens e mulheres que embora sejam
reconhecidos como experts em
suas áreas de conhecimento, entendem que há prazer em dividir
conhecimento e não em estocá-lo.
Houve
um tempo em que eu não entendia que, más experiências podem ser
grandes fontes de aprendizado, hoje porém, procuro extrair o máximo
de todas as situações vividas, para que o tropeço, quando
inevitável, se dê em outras pedras... não as mesmas.