sábado, 26 de outubro de 2013

A AGULHA


 

Há alguns meses passei por um dilema doloroso. Meu pai operava uma das máquinas industriais que temos e a agulha cravou seu dedo indicador. Situação como essa é tão repentina que quando nos damos conta, já existe o mal feito. A questão era - como tirar a agulha e salvar o dedo sendo que não havia espaço pra isso??? Em casos assim você procura frieza de algum lugar pra lidar com a situação...
Desliguei a máquina e então comecei a calcular o que fazer enquanto ele chorava de dor e claro, se dói no meu pai, dói em mim também... Então, eu tinha que girar o disco que comanda a corrente que por sua vez comanda a agulha pra inverter sua rotação e livrá-lo da agulha, e isso não era simples porque um simples toque multiplicava sua dor... E agora como girar o disco??? Tenho uma visão privilegiada e sendo assim, comecei cuidadosamente a movimentar aquele rotor e pra infelicidade do meu pai, ainda errei e furei um pouco mais seu dedo, imediatamente consegui reverter o processo e libertá-lo daquela dor que sequer posso supor como era, mas por certo era agonizante... No rosto dele rolavam lágrimas grossas pelo trauma e também pelo alívio!!!
Penso que mesmo sem querer fazemos isso a quem mais nos ama, nos respeita, nos tem em grande estima e consideração... Causar dor, quando muitas vezes pretendemos o contrário é humano, faz parte de nossas tentativas de fazer certo, embora isso não deva nos servir de base para justificar atos errados, é de nossa condição como espécie. Mas, uma vez que tenhamos errado para com aqueles que jamais mereciam nosso desapreço, tenhamos em conta que eximir-se através do perdão é libertador e serve de bálsamo às feridas que provocamos a outros...


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