segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Onde você estava?


 

A cada ano, a pergunta se repete: Onde você estava em onze de setembro de dois mil e um? Ao chegarmos em dois mil e vinte, alguém com menos de dezenove anos de idade não terá o que responder mas alguém com quarenta anos mais ou menos, provavelmente se lembre.


Eu tinha vinte e um anos.


Naquele dia eu estava saindo do escritório da empresava em que eu trabalhava e ao chegar numa esquina próxima, onde havia uma árvore muito alta ouvi alguém dizer que um avião havia se chocado com um prédio em Nova York. É claro que me causou espanto, mas nada comparado a instantes depois ouvir que uma segunda aeronave havia colidido em um edifício vizinho e associado a esta segunda informação, ouvi pela primeira vez, ao ver os diversos aparelhos de TV repercutirem ao vivo, pela primeira vez a palavra ‘terrorismo’ sendo associada a esse evento.


Pouco depois, aquele dia se revelaria ainda mais aterrorizante nos plantões de notícias: outra aeronave se chocando no Pentágono, sede militar norte-americana e mais uma caindo na Pensilvânia.


Todos aqueles quatro voos tinham como destino a ensolarada Califórnia na costa oeste do país: Los Angeles e São Francisco eram as cidades a que chegariam os aviões, caso aqueles dezenove sequestradores não houvessem dizimado tanto a tripulação, passageiros, quanto os trabalhadores das duas torres do World Trade Center.


Com o passar do tempo e conforme as investigações iam avançando, informações chocantes vinham ao público: a luta dos passageiros do voo 93 da United para dominar os terroristas, as palavras de despedida dos passageiros por meio de seus telefones celulares enquanto as aeronaves rumavam para as torres gêmeas do WTC… Cada vida perdida em solo ou no ar, causava a reflexão: “E se fosse eu ali?”


Dezenove anos depois, ainda penso sobre isso…


A verdade é que como sempre na vida, achamos que o controle da vida está em nossas mãos… Nada é tão enganoso como pensar assim. Nenhuma daquelas pessoas fazia a menor ideia de que seus voos jamais aterrissariam, nada além de que estariam logo em breve chegando a costa oeste pra seguirem suas vidas, fazia parte de seus planos para aquela manhã.


Gosto de fazer reflexões que embora pareçam óbvias, desafiam nossa arrogância de gerência total sobre nossas vidas. Penso que nossa vida só não é melhor do que ela poderia ser porque costumamos procrastinar as mudanças que seriam vitais para uma vida mais produtiva, feliz e que fizesse diferença na vida daqueles que ficariam depois…


Aqueles terroristas destruíram a si próprios e também a milhares de pessoas. Há corpos que nunca foram encontrados, pois foram totalmente desintegrados; no entanto, muitos ali apesar de terem se transformado em cinzas, continuaram fazendo a diferença na vida de suas esposas, maridos, filhos, netos, irmãos, amigos, etc… Pois antes de embarcarem, haviam construído e edificado suas vidas em valores que não se desintegram pela violência mas se solidificam e eternizam pelo amor.


A cada vez que preciso de embarcar num voo eu lembro disso e fico feliz a toda vez que chego ao meu destino mas também penso no que ficará da minha vida para os outros, caso eu não chegue ao meu destino programado e claro isso se refere a todos os outros “voos” da minha vida. E quanto a você? Se seu “voo” for desviado da rota original, o que ficará de você?

sábado, 5 de setembro de 2020

Meus Brinquedos


 Você consegue lembrar dos seus brinquedos de infância? Tenho certeza de que, pelo menos, alguns deles foram mais marcantes e te fazem lembrar de uma época maravilhosa possivelmente. Enquanto descrevo a seguir alguns dos meus favoritos, talvez você faça o mesmo com as suas lembranças.


Talvez o primeiro do qual me lembre, é um telefone de corpo amarelo e base vermelha, que era muito bonito, tinha um discador funcional, um fio em formato espiral e era de um acrílico bem resistente ainda sim era bem leve. Tenho uma foto com ele de quando eu tinha uns 3 anos e minha irmã era ainda bebê. A partir de então, tive muitos brinquedos, como carrinhos que se moviam por fricção, tive uns dois “Trombada” que eram carrinhos famosos na época por simularem colisões os deformavam e que voltavam ao normal apenas fechando suas portas; lembro também de um avião que simulava decolagem e aterrissagem da extinta aérea norte-americana – PanAm; um ônibus eletrônico que era réplica dos que eram usados no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris; um lindíssimo Mercedes-Benz sedã em escala 1/24 e muitos mais.


Curiosamente nunca tive vídeo-game, por uma razão muito simples, meus pais acreditavam que não era o tipo de brinquedo que fosse boa influência, apesar de vez ou outra, terem me permitido jogar na casa de amigos, jogos de corrida ou de desafios, mas nunca de batalhas ou lutas. Depois de adulto, continuei a gostar do mesmo tipo de ‘game’ e nas raras vezes que uso um jogo no computador, os temas são: simulação de voo e corrida ou desafios como desvendar enigmas e ainda jogos de xadrez. Até hoje não suporto jogos de luta por exemplo. Não entendia, como colegas meus amavam gastar dinheiro em fliperamas, sendo tão viciados que davam socos na máquina, quando perdiam uma ‘luta’. Mesmo com grandes hardwares como Playstation e Xbox atualmente, não me animo com esses tipos de jogos.


O que me faz relembrar essa parte da minha infância hoje, é um tipo de paradoxo que não somente eu mas como qualquer criança que chega a idade adulta, vive.


Nossos brinquedos expressam a vontade de deixarmos logo de ser criança pra ser gente grande. ‘Dirigindo’ nossos carrinhos por estradinhas feitas na terra, ‘pilotando’ nossos aviõezinhos com propulsão manual ou ainda enchendo de água o tanque de casa pra ‘navegar’ com nossos inafundáveis barquinhos ou naviozinhos.


Quando crianças ignoramos as pressões da vida adulta que são o ‘outro lado da brincadeira’ e que somente são conhecidas quando ‘chegamos lá’. Somente então é que o paradoxo que citei aqui, começa a ‘dar as caras’. Olhamos para o passado e pensamos em quão bom seria que nossa única preocupação com o carro, fosse buscá-lo na caixa de brinquedos e não listarmos mentalmente o IPVA, DPVAT, Licenciamento Anual, revisão, manutenção, acidentes, insegurança… Ou ainda, que nossos filhos precisassem apenas de serem guardados naquela mesma caixa, com roupinhas que ‘sujam’ apenas na imaginação das mamães de bonecas com suas mamadeiras de 5 ou 10 ml de água e não precisassem de educação, vestimenta, alimentação, assistência médica e odontológica e a lista segue…


Claro que você entendeu que não estou dizendo, que filhos sejam dispensados desses cuidados. Minha argumentação tem a ver com o paradoxo e não com o amor que temos por nossa prole.


A verdade é que adultos não podem regressar para sua infância mas as crianças irão tornar-se adultas, portanto, pessoas grandes devem fazer tudo o que tiver ao seu alcance para que crianças vivam apenas a sua infância. Sim, com carinhos, bonecas, jogos mas longe da erotização ou vícios dos adultos que não tiveram, por qualquer razão, uma infância saudável.


Não estou afirmando também que a vida adulta seja somente de fardos, aliás, está muitas vezes em nossas mãos, buscar um pouco das nossas raízes em nossos primeiros anos; não poderemos mais entrar em um ‘Delorean’ e voltar para nossa caixa de brinquedos, mas algo daquela época ainda está em nós e sendo assim, podemos relembrar esses momentos e deles tirar alguns bons aprendizados e valores, seguindo então pela vida com mais leveza.

Uma história contada por meu pai

  Acho interessante quando, mesmo em meio a era da internet de alta velocidade, com todas as inovações por ela trazidas, pais ainda contam ...