Passamos a vida perdendo coisas e a perda de uma carteira é algo mais do que corriqueiro.
Lembro da vez em que perdi uma carteira quando eu voltava de um compromisso num sábado pela manhã. Na verdade só percebi a perda ao chegar em casa. Na hora aparece um sentimento ruim no meio do peito e em seguida a tensão do que aquela perda vai gerar – no meu caso, perdi algumas centenas de reais e ainda meus documentos como a habilitação para dirigir. Isso representava contas que não seriam pagas e horas perdidas para conseguir novos documentos.
Tentei ainda refazer o caminho no desejo de quem sabe, encontrar essa carteira num canto do caminho, torcendo para que uma pessoa mal intencionada não a encontrasse primeiro mas não tive sucesso.
No dia seguinte, uma viatura policial parou em frente a minha casa e dois agentes da polícia me chamaram pelo nome, o que me causou estranheza, mas ainda sim não associei essa visita inesperada com a perda da minha carteira, no entanto era justamente essa a razão pela qual eles estavam ali. A carteira foi encontrada a cerca de duzentos metros do caminho em que eu havia passado – nela estavam meus documentos mas o dinheiro foi todo roubado. “Gentilmente” eu suponho, deixaram os documentos jogados para que talvez eles chegassem até mim de volta, já que o mais “interessante” já estava ‘ganho’.
Inicialmente fiquei grato aos policiais que me trouxeram a carteira mas logo me preencheu a sensação de revolta ao pensar que o meu dinheiro ganho com trabalho honesto estava sendo desfrutado por uma pessoa oportunista e desonesta. Fui tentado também a supor uma possível desonestidade daqueles agentes, mas o correto é que o primeiro pensamento seja de confiar nos homens da lei.
E aqui reside a minha reflexão: pelo fato de sermos bombardeados por notícias de corrupção no ambiente público, em especial em instituições em que a justiça e a honestidade jamais deveriam ser objeto de questionamento, somos levados a ver com desconfiança muitos agentes públicos, reputando-os como potencialmente desonestos. Ao pensar assim cometemos também possíveis injustiças, pois culpar inocentes também é grave, mesmo que isso seja apenas feito num ambiente privado, pois pode tornar-se hábito para nós culpar quem não merece culpa e então podemos, sem o devido e correto senso crítico, injustiçar pessoas pelo caminho.
Só quando somos alvo de injustiças é que estamos gabaritados a entender quem é vítima delas. E pensar nisso me leva a lembrar aquela conhecida expressão popular: “Não queira para os outros, o que você não quer pra si”.